Cabo Raianne Cavalcante, que atua na Cabine Lilás, contou que muitas mulheres encontram nos filhos a força para denunciar e prosseguir, como aconteceu na família dela
“Minha mãe sempre foi muito forte, criou quatro filhos sozinha, mas passou por uma situação de violência em um relacionamento abusivo. Infelizmente, convivi com isso na minha infância, até que minha mãe não permitiu mais.”
A história da cabo Raianne Cavalcante, da Polícia Militar, encontra semelhança na vida de muitas mulheres. Com amor, determinação e valorização à educação, a mãe dela não permitiu que o episódio traumático definisse a história da família.
A história da cabo Raianne Cavalcante, da Polícia Militar, encontra semelhança na vida de muitas mulheres. Com amor, determinação e valorização à educação, a mãe dela não permitiu que o episódio traumático definisse a história da família.
Depois de anos, a experiência pessoal da policial na infância se transformou em uma luta diária contra a violência doméstica e familiar.

A cabo Raianne escolheu trabalhar na Cabine Lilás, do Comando de Operações da PM (Copom), em São Paulo, ajudando outras vítimas de violência. “Hoje, quando atendo essas mulheres, é na minha mãe que penso”, resume.
Mãe de um menino de 5 anos, a cabo Raianne diz entender melhor de onde vem tanta força para prosseguir “mesmo quando a vida dói a ponto de te deixar sem rumo”, a exemplo do que aconteceu com a mãe dela.
Segundo a policial, a maioria das mulheres que ligam 190 para denunciar algum tipo de violência é mãe, e os filhos acabam vivenciando as agressões. “Muitas delas relatam que os companheiros não têm nem mesmo empatia com os próprios filhos, não se importam em agredi-las na frente das crianças”, revela.
Apesar disso, a policial tem a percepção de que é nos filhos que as mães encontram força para denunciar, para acabar com o ciclo de violência e seguir em frente.
“Mesmo que seja em situações diferentes, falo como mãe mesmo, porque o meu filho é o motivo de eu levantar todos os dias querendo ser melhor, com energia para trabalhar, enfrentar os desafios e não parar. Ele é o grande amor da minha vida e a minha força diária”.
O filho da policial, apesar de ainda ser muito novo, entende a importância da profissão que a mãe escolheu. “Ele sempre fala para as pessoas que a mãe dele é uma heroína. Preciso fazer jus a esse cargo”, brinca.

Um desafio pessoal na carreira
Raianne fez parte da primeira turma treinada especificamente para atuar na Cabine Lilás, que oferece atendimento especializado às vítimas de violência doméstica e familiar.
Ela iniciou a carreira na Polícia Militar Rodoviária, depois migrou para o Copom. Quando soube do projeto pioneiro para ajudar vítimas de violência não exitou em participar.
“Eu sabia que seria um desafio até pessoal para mim. Consigo entender a fragilidade que elas estão quando ligam aqui para denunciar”, acrescenta. “Acho que, na minha posição, transformei essa experiência em um motivo para ter ainda mais empatia, sensibilidade e realmente força de vontade para tentar mudar a história daquela mulher vítima de violência.”
Antes, esse atendimento especializado era feito apenas na capital paulista e região metropolitana como um projeto piloto, mas, em março, se expandiu para São José do Rio Preto, no interior do estado. Até o final do ano, todas as cidades do interior paulista vão contar com a iniciativa.
Cabine Lilás e iniciativas de combate à violência doméstica
Apenas policiais femininas e capacitadas sobre o tema atendem na Cabine Lilás, implantada em março de 2024 no Copom. A vítima tem o tempo que precisar para falar, recebe orientações e apoio profissional.
O governo de São Paulo tem se empenhado em campanhas e projetos contra esse tipo de crime. As mulheres que passaram por isso podem realizar a denúncia nas mais de 141 Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) espalhadas pelo estado, solicitar medida protetiva que, em determinados casos e com aval da Justiça, faz com o que agressor seja monitorado até mesmo por tornozeleira eletrônica.